Minha avó por parte de pai faleceu em 1996, quando eu tinha 15 anos. Naquele mesmo ano tive um sonho muito estranho. Após tanto tempo, ainda consigo recontá-lo com riqueza de detalhes. Além dos detalhes visuais, as sensações daquela experiência ficaram registradas fortemente em minha memória.
Meu sonho iniciou-se com a visão de um lugar triste, sombrio e assustador. Hoje, ao recordar, é assim que vejo aquele ambiente. Chego a sentir um pouco de medo ao pensar nas imagens. A lembrança daquele lugar me traz arrepios, mas apesar disso, lembro-me também que no momento em que eu estive lá não senti medo algum. Senti uma sensação estranha, como se nada que houvesse lá, por mais que fosse ruim ou perigoso, poderia me atingir. Portanto, durante o sonho, a sensação que tive é de não poder ser vista ou tocada por nada nem ninguém. O medo daquele sonho veio apenas depois, com as lembranças.
O lugar obscuro em que eu me encontrei durante aquele sonho era horripilante. Tinha algumas características de um deserto, onde pude ver muitas árvores secas, sem nenhuma folha sequer. Ví que estavaà beira de um rio. Mas tratava-se de um rio sujo, de água parada, sem vida. Havia também um nevoeiro não muito denso, mas que deixava o clima do lugar ainda mais triste, mais misterioso.
Ao olhar aquele lugar, perguntava-me onde poderia estar. Como eu já disse anteriormente, não senti medo naquele momento. Minha única preocupação era entender o que se passava.
De repente senti uma aproximação. Senti fortemente a energia daquele ser que vinha em minha direção. Neste mesmo momento, pude perceber que tratava-se de minha avó desencarnada a pouco tempo. A procurei ao meu redor, mas não consegui vê-la. Curiosamente, não a via, mas a sentia. Sabia que era ela. Sabia que estava lá e que queria comunicar-se comigo.
Ao sentir sua presença tão intensamente, percebí que não estava nada bem. Foi como se eu captasse de alguma forma todos os seus pensamentos e sentimentos. Eu senti e vivenciei toda sua dor. Ví todo seu sofrimento. Captei sua angústia, tristeza, inquietação e mágoa. Aquela sensação era estranha e nem um pouco confortável. Achei estranha, por que aqueles sentimentos não me pertenciam, e eu sabia disso... mas de alguma forma eu podia sentí-los dentro de mim. Achei desconfortável por que eu não costumava ter tais sentimentos, e aquilo me pareceu algo muito ruim.
Após ter percebido todo o sofrimento de minha avó é que enfim ela fez contato comigo. Continuei sem vê-la e sem ouvi-la. Apenas percebi o que ela queria me dizer: "Estou muito infeliz. Estou sofrendo muito. Você não faz idéia do que é estar neste lugar. Aqui tudo é tão terrível e tão triste, que até o céu é assim... com essa cor."
Quando ela referiu-se ao céu, automaticamente olhei para cima. Foi então que tive a pior de todas as visões daquele lugar... Ví um céu escuro. Mas de uma escuridão inimaginável em qualquer noite que possamos ver em nossas vidas! Era um céu escuro em tom roxo! Com muitas núvens escuras, num clima tempestuoso porém sem chegar a chover. Completando aquela paisagem sombria, haviam gralhas. Muitas delas. Algumas voando e outras pousadas sobre os galhos secos das árvores. Aquilo tudo me impressionou.
A partir daí não percebí mais a presença de minha avó. Apenas observava aquela visão terrível! Ví as gralhas voando em bandos e gritanto! Gritavam alto. Muito alto. Era o único som que percebia-se naquele lugar. Na verdade, o som do grito das gralhas era o som daquele lugar! E foi com aquele horrível som em meus ouvidos que acordei.